Dia desses me perguntaram sobre ter um “status de rock”.

E eu que fui chamada de roqueira por toda a minha adolescência. E eu que usava muito preto, que não usava nem batom. Que gostava de música alta, muito alta. Eu que fui em shows históricos e sonhei ter ido em festivais que mudaram o mundo. E eu, euzinha, digo que não sou roqueira. Não é trair o movimento, não é negar meus primórdios. O rock and roll é meu norte. Eu atiro pra muitos lados, viajo por muitas ondas… mas o rock é minha referência.

É a atitude, é o som. E coisa mais louca é adorar Lobão, a imagem do rock, mas ser guiada desde cedo pelas ideias do Humberto Gessinger, ícone do anti-rock, da atitude menos roqueira do mundo. Ser louca por Stones, mas apaixonada pelos Beatles na fase iê-iê-iê (também). O rock me fez gostar de música, não superficialmente, não as músicas que tocam nas rádios… O rock fez com que, numa época sem internet, eu comprasse revistas de letras traduzidas quando ainda era uma pré-adolescente. E ter prazer nas aulas de inglês, só pra entender o que eu cantava assim, de qualquer jeito. Linguagem universal. O rock me levou a amar sonoridade, musicalidade, melodia. Arte, intertextualidade. E perceber que tinha um tantão de ritmos maravilhosos, bem longe da pegada rock and roll. O rock me guia… mas eu ando em zigue-zague, em círculos, ando só – como se voasse em bando. Me visto como alguém dos anos 50, 60… e daqui a pouco tô de jeans rasgado e camiseta, ou cheia de acessórios modernosos. Rocking and rolling, deixando rolar, cada hora de um jeito. Passei por bastidores de shows nas melhores (e nas piores) casas de São Paulo. De Aeroanta, passando pelo Olympia, e por todos os nomes do antigo Palace. E era punk, era reggae, era mpb… e claro, muito rock and roll.

Tudo isso pra dizer que eu não devo nada a ninguém. Não preciso mostrar meu “status de rock”, porque o rock corre nas minhas veias com o sangue, vermelho e pulsante. É natural. Não é um status, não é um estilo de vida, nem mesmo um estado de espírito. É algo que anda junto com a vida. É a vida. Que, se não existisse, seria inventado para dar sentido às minhas escolhas, às nossas escolhas. A minha evolução como pessoa depende disso. Ao som do rock and roll eu cresci, viajei, namorei, estudei, trabalhei… Ao som do rock eu pesquisei outros sons. Mais leves, mais pesados. Tudo por causa do meu amor à música. Por causa do rock and roll.

Se com dez anos de idade eu ia no Show da Xuxa (faz parte pra quem tá na faixa dos 30), com 11 já via bandas nacionais com autorização assinada pelos meus pais (grandes culpados pelo meu amor incondicional à música), com 12 via o Guns ‘n’ Roses com o louco do Axl – primeiro show de estádio; com 13, Michael Jackson – som pop, atitude ‘punk’; com 14 bati muita cabeça no show dos Ramones; com 15, Stones – vivendo um dos dias mais lindos da minha vida; com 16 Page&Plant, e como envelhecer pode doer… e por aí vai. Hoje sou praticamente uma senhora do rock. Não vi muita gente que amaria ter visto. E também cansei de ir em show de estádio. Hoje até prefiro os mais intimistas. É, tô velha. Mas não se enganem: Quem tem rock and roll na alma, sempre terá. E eu sempre terei. Não é status quo. É condição sine qua non.